John fitou o pedaço de papel, de fato, nele estavam escritas algumas instruções. Ele riu e pensou que talvez aquilo não passasse de peça do velho. Seria bem provável já que ele o teria conhecido um dia antes e ainda não confiava nele. Mas e se fosse verdade? Se aquela letra garranchada e aqueles passos mostrassem realmente como se montasse um relógio mágico? Seria tolice tentar?
O jovem colocou o pedaço de papel no bolso e se dirigiu ao porão. Era um lugar escuro, úmido e com muitas quinquilharias. Era ali que John se afastava do mundo e ia fazer o que mais gostava: fabricar relógios. Em toda aquela técnica ele via algo de sensacional, algo que lhe dava prazer. Quando era ainda criança, aprendeu a consertar relógios com seu avô, não tardou, aprendeu a fabricá-los. Sentia-se realmente importante naquele momento. Sentia que suas mãos eram instrumentos divinos, embora não tivesse deixado de acreditar em Deus depois que sua amada esposa falecera. Às vezes, quando estava sozinho em sua cama e não conseguia dormir, lembrava do sorriso de Beatrice: como ela era doce. Nem quando estava com raiva dele, quando ficava até tarde trabalhando, ela era rude. De tão delicada, parecia uma rosa.
John se sentia culpado pela morte da esposa. Embora o médico tenha feito todo o necessário para deixar sua esposa viva, ela não resistiu. Chegou a amaldiçoar seu filho, que tirou a vida de sua amada. Mas Beatrice queria tanto um filho que ele se sentia obrigado a isso. Talvez ela desejasse tanto por não receber a devida atenção do esposo. E de fato, isso acontecia. A bela sentia-se sozinha e isso era claramente observado. Quando viu a barriga crescendo, se encheu de alegria, parecia uma outra mulher. Tudo era o bebê. Tudo era para o bebê. John chegou a sentir ciúmes da criança, pois aquele “forasteiro”, como se referia ao filho, era mais merecedor da atenção de Beatrice que ele.
John parou um instante de consertar o relógio do Mr. Jakes, olhou em volta e pensou que talvez aquele bilhete não fosse uma simples brincadeira. Seria provável que Sali tivesse deixado para ele a receita da felicidade. Pensou que talvez, com esse relógio mágico nas mãos, pudesse recuperar a esposa que tanto amava. Ele pegou o bilhete do bolso e começou a ler. Arrumou as peças e os instrumentos de que iria precisar e começou o trabalho.
O jovem trabalhou duas semanas sem parar. Parecia que o relógio não queria ficar pronto. Quando os ponteiros enfim se mexeram, John mal conseguia segurar as lágrimas. Imediatamente ele pensou no que iria fazer, será que voltar no tempo e não deixar que Beatrice engravidasse seria uma boa idéia. Ele pensou e decidiu: voltaria no tempo e recuperaria a vida de antes ao lado de sua amada e não permitiria jamais que ela engravidasse.
Não tardou e John estava com o relógio mágico na mão e pronto para a viagem no tempo...