Archive for outubro 2009

Por essa eu não esperava


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Ele estava ali, parado na porta, me olhando. Não consegui não notá-lo. Sua figura era muito forte para deixar de ser vista. Seus olhos pareciam lasers mirando em mim. Senti-me nua, seu olhar era penetrante. Por quê ele fazia isso comigo? Será que sua presença já não era o bastante para me deixar desconcertada? Ele estava diferente, de uns dias pra cá começou a me notar. Sua presença sempre foi um problema para mim, mesmo quando nem me via. Mas agora, ele me olhava. Como se eu fosse algo ou alguém importante, que merecesse atenção.

Não. Na verdade, não sou nada nem ninguém que mereça atenção. Por quê ele estaria fazendo isso comigo agora? Minha modéstia não me deixa acreditar que ele esteja interessado em mim. Tenho dúvidas. Será que são as mesmas dele?

Agora ele andava, estava vindo em minha direção. Não acredito no que eu estou vendo, algo de sobrenatural deve ter mudado minha mente e fez com que eu acreditasse que ele estava próximo a mim agora.

Por quê está fugindo de mim?, ele falou. De repente, um bolo se acumulou em minha gargante e só pude olhá-lo. Por quê está fugindo assim?, de novo ele perguntava. Fugindo?, falei. Não entendo suas palavras, completei. "Sim, você está fugindo. Não vai mais aos mesmo locais, não fala com as mesmas pessoas", ele disse com uma voz doce. Não entendi o porquê daquele questionamento agora: desde quando ele se preocupava comigo? Nunca tinha falado com ele, a não ser um tímido "oi" quando fomos apresentados na festa de aniversário de Ana. Não ousei dizer mais nada, estava confusa. E ele continuava na minha frente, olhando nos meus olhos. "Por quê você não fica comigo agora?", ele disse rindo. "Posso te acompanhar no jantar?", completou. "Pode", respondi.

Lucas era um cara muito bonito, realmente lindo. As garotas sentiam muito ciúmes dele quando estava na companhia de outras. E eu estava fazendo esse sentimento brotar dos corações de Angélica, Márcia e Aline nesse momento. As três olharam para mim torto quando me viram acompanhadas com ele. Lucas não notou a presença delas. Estava tonta, tudo acontecera com muita rapidez. Não esperei que, naquela tarde, ele me falasse aquilo e, principalmente, me convidasse para jantar.

Chegamos em seu carro. O restaurante era o de sempre: La bombonera. A comida era boa, mas a companhia dele era infinitamente melhor. Poderia estar comendo churrasco na esquina, desde que fosse com ele. Sempre senti-me atraída, mas nada considerado ao que sinto agora. Seu convite me deu um novo ânimo, uma esperança. Engoli a comida como se fosse de plástico, não senti o gosto, só o doce perfume que emanava de sua pele.

Lucas pagou a conta e fomos para casa. Estava empenhada em sair do carro, não pedir nada, nem esperar nada. "Quer repetir isso mais vezes?", disse ele sorrindo. Por quê ele fazia aquilo: Sabia que nunca negaria nada àquele sorriso. "Pode ser. Você pode me encontrar amanhã depois da aula de novo", disse meio sem notar no que estava falando. "Certo, amanhã nos vemos então", ele disse olhando nos meus olhos e tive a certeza de que ele iria mesmo. Saí  do carro com cuidado ao bater a porta, eu era muito desastrada com portas de carros. Realmente desastrada e, naquele dia, não queria deixar uma má impressão. Não naquele dia. Naquele dia queria que não acontecesse nada que ele pudesse rir de minha falta de coordenação motora. Dei um sorriso amarelo pela janela, nunca fui verdadeira nessas horas, sempre o coração acelerava demais e eu não conseguia me concentrar em ser verdadeira o bastante. Ele me olhou com seus lindos olhos e sorriu também. Me afastei andando de costas. Ele não parava de me olhar. Virei e fui abrir a porta. Entrei dando um tchauzinho pela porta. Ele buziou e acelerou. Fechei a porta. Me encostei nela e dei um grande suspiro.

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