Archive for agosto 2009

Foi culpa sua!


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Ele ia viajar. Estava apressado pois não poderia perder o ônibus. Faltavam só meia hora e ele ainda precisaria sair de casa, pegar um táxi, comprar a passagem e pegar o ônibus. Seria uma missão quase impossível, mas ele tentaria. Por ela ele tentaria.

Saio de casa sem escovar os dentes, o cabelo todo desgrenhado. Pegou um táxi na avenida e jogou a mala no carro. Pediu para que o motorista fosse mais rápido. O consgestionamento parecia não ajudar. O mororista pegou um atalho e passou a quarta marcha. Estavam a 60km por hora. Parou. Pagou. Entrou na estação rodoviária e se dirigiu ao guinchê. Comprou a passagem. Agora só faltavam cinco minutos.

Desceu as escadas, a mala parecia querer ficar na estação. Pegou-a nos braços e pensou: "essas rodinhas só servem para atrapalhar". Passou na catraca e entregou a passagem ao funcionário. Não deixou nem que ele falasse boa viagem, saiu correndo antes que ouvisse "bo".

O motorista já estava lá, esquentando o motor da máquina. Agora só faltavam dois minutos. Ele subiu no ônibus, procurou sua poltrona e sentou. Pensou: "consegui! tô indo praí amor, chego já". Esse "já" seriam 14 horas de viajem com paradas para refeições. Fechou os olhos. Dormiu.

...

Acordou com o barulho do choro de uma criança na poltrona de trás. Não imaginava ter que viajar naquilo novamente. Agora um cheiro de vômito chegou em suas narinas. Pensou: "por isso não terei filhos". E a viajem continuou.

Depois de 14 horas chegou. Ela não estava lá, "mas me falou que estaria". Ele pegou o telefone e ligou. Uma voz do outro lado atendeu "Estamos no hospital. Tio Jaime vai te pegar aí". Foi para a porta, "aquela não era a voz dela, ou era?". As pessoas passavam, pegavam táxis, encontravam outras, se abraçavam... "O que aconteceu, não acredito que tenha acontecido nada com ela".

Bip-Bip. Tio Jaime buzinava do outro lado da avenida. Ele correu. Entrou no carro e sorriu. Tio Jaime retribuiu o sorriso, mas não parecia muito sincero. "O que aconteceu?", disse. "Ela está no hospital, quando vinha te buscar bateu o carro", disse o tio. "Mas foi grave", sua voz quase embargou. Tio Jaime respondeu: "Acho que não, os pais dela estão lá".

Mais um congestionamento, só que dessa vez ele não poderia pedir para o tio Jaime que ele acelerasse. O barulho de buzina e as luzes dos faróis o confundiam e deixavam seus pensamentos mais andarilhos: "Será que foi grave e tio Jaime falou isso para não me preocupar? Foi minha culpa, minha culpa". Tio Jaime pisou no freio, eles chegaram.

O corredor branco lembrava o hospital onde seu pai ficara internado dois anos antes. Não gostava daquele cheio de éter, na realidade ficava até enjoado. Sabia que aquilo era psicológico. Quarto 203, ouviu Tio Jaime bem atrás gritar. Já ia longe, não sabia onde, mas quase corria.
Abriu a porta e encontrou-a. Estava com o pé engessado, a face com arranhões e os braços cheios de tubinhos. Olhou em seus olhos. teve vontade de chorar. "Estou bem, foi só um susto", disse ela. Seus cabelos loiros estavam presos e sua voz, apesar de tudo, alegre. Ele se acalmou, mas as lágrimas insistiram em saltar de seus olhos. Pensou: "Felizmente foi só um susto".

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